terça-feira, 15 de julho de 2025

O Jorge Amado de 1937 e a Santa Catarina de 2025

Uma vereadora de Itapoá (SC) viralizou ao afirmar, em sessão ordinária, estar estarrecida com o livro "Capitães da Areia", de Jorge Amado. O mais chocante foi o fato de a parlamentar sequer ter lido a obra na íntegra, baseando suas conclusões na "escandalização" de supostos pais que lhe pediram a retirada do livro das escolas municipais. Jéssica Lemoine (PL) alegou que o livro, lançado em 1937, "romanticiza a pobreza" e "promove a marginalização dos mais jovens". Além disso, sugeriu que a faixa etária para a obra fosse aumentada de 14 para 18 anos, devido ao suposto "linguajar inadequado" do enredo.


É irônico pensar que o que causa a marginalização é, na verdade, a falta de perspectiva e políticas públicas — algo que é função de pessoas em cargos de poder, como Jéssica — e não um livro escrito há mais de oitenta anos.


Em outra ocasião, um vereador de Caxias do Sul (RS), também do PL, afirmou na tribuna da Câmara que baianos "apenas sabiam fazer carnaval e tocar tambor". Essa fala extremamente racista viralizou nacionalmente, justamente na semana em que trabalhadores baianos haviam sido resgatados de uma situação de trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves. O vereador em questão foi alvo de um pedido de cassação, que, no entanto, foi rejeitado. Sua voz, infelizmente, ecoava a de muitos.


Chega a ser cômico quando pessoas que deveriam se preocupar com a falta de professores, médicos, remédios, obras em estradas e outras necessidades urgentes se preocupam apenas em "lacrar" nas redes sociais para alcançar sua claque. Esses dois episódios isolados revelam que, em 2026, teremos um longo e árduo caminho de conscientização política, especialmente para as classes mais vulneráveis da sociedade. A "lacração" travestida de preocupação ideológica em nada auxiliará o Brasil a melhorar a forma de representação nas casas de poder.

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